Morador de Betim, sobrevivente da tragédia de Brumadinho, lança livro sobre rompimento da barragem da Vale

"Brumadinho: na tragédia da lama, sou um sobrevivente", descreve momentos de quem estava presente na Mina do Córrego do Feijão, da Mineradora Vale, em janeiro de 2019. Foto: Arquivo pessoal/ Sebastião Gomes.

Sebastião Gomes estava trabalhando na mineradora quando ocorreu o crime ambiental, em janeiro de 2019, que resultou na morte de 272 pessoas

A história de um homem que sobreviveu a um dos maiores crimes ambientais do Brasil. Escrito pelo próprio sobrevivente, Sebastião Gomes, de 55 anos, e publicado pela editora Albatroz, o livro “Brumadinho: na tragédia da lama, sou um sobrevivente” descreve momentos de quem estava presente na Mina do Córrego do Feijão, da Mineradora Vale, no dia 25 de janeiro de 2019, quando a Barragem B1 estourou derramando toneladas de lama pela frente, tirando a vida de 261 pessoas, e deixando 11 ainda desaparecidas.

Morador de Betim, Gomes aponta que sentiu a necessidade de contar sua história após diversas entrevistas que deu para veículos de comunicação depois do acidente. Foto da capa: Amadeu Barbosa – Rede Record.

Sebastião, que também é formado em Engenharia Ambiental e Sanitária, desde 2018, foi um dos sobreviventes. E ganhou destaque ao protagonizar um vídeo, no qual estava dentro de uma caminhonete ao lado de um colega de trabalho tentando fugir da onda de rejeitos.

Morador de Betim, Gomes aponta que sentiu a necessidade de contar sua história após diversas entrevistas que deu para veículos de comunicação depois do acidente. Porém, revela que escreveu não apenas sobre o dia D, mas também de como foi contratado pela empresa.

“Contar apenas o dia do acidente seria só um artigo, então decidi falar um pouco sobre quando entrei na Vale, em 2010, sobre minhas amizades, meu dia a dia lá, de Brumadinho e sobre quem eu sou”, destaca Sebastião. Que continua.

“E, claro, sobre o dia do acidente, sobre o momento exato que eu e o Elias (colega de trabalho que estava com Sebastião na caminhonete e que também sobreviveu) almoçamos e depois fomos surpreendidos com estrondos minutos antes de nos depararmos com a onda de rejeitos. Falo do meu processo na faculdade, na qual entrei aos 46 anos com auxílio da Vale. Pois consegui realizar um sonho depois de oitos anos de muita luta, já que tive que interromper os estudos por conta de problemas de saúde”, enfatiza o engenheiro.

O engenheiro elucida que após o acidente foi necessário acompanhamento psicológico. “Falo no livro sobre meu tratamento psicológico também, sobre o afastamento da empresa por alguns meses e meu retorno. Escrevo sobre a CPI, da qual fui convidado, aberta pela Assembleia Federativa de MG para investigar o acidente e um pouco da minha pós-graduação”, esclarece.

A respeito do dia do acidente, Sebastião afirma que agora tem duas datas de nascimento. “Eu faço aniversário dia 22 de julho, mas todo dia 25 de janeiro vou comemorar uma nova data de aniversário. Este ano comemorei com meus filhos em casa, mas claro que não é algo alegre, pois lembramos das mortes, porém celebramos que estou com minha família”.

Vida após tragédia

Após se desligar da mineradora, ele destaca que fez uma reviravolta na vida profissional. “No fim do ano passado, abri minha própria empresa de consultoria ambiental, com a pandemia está parada, mas continua ativa. Também dou palestras e, depois que me formei, resolvi fazer uma pós-graduação em auditoria ambiental”.

Mais livros

Gomes comentou que levou um ano para escrever o livro, sempre pedindo orações para Deus colocar o que ele sentia em cada página e confessa ter mais projetos literários em andamento. “Um já está pronto, a ‘História de Lurdes’, que é a biografia da minha mãe. Também estou escrevendo um sobre a pandemia. Como sanitarista, estou envolvido em questão de saneamento, e tenho aproveitado meu tempo para falar sobre a pandemia nesse projeto”.

Além de escritor e engenheiro, Sebastião também é artista plástico desde os 22, e já expôs quadros na Casa de Cultura de Betim. Agora afirma estar em um momento “escritor”. “Estava pretendendo iniciar uma sessão de pinturas, mas dei preferência aos livros. Quando você se dedica à escrita, você está enquadrado na poesia, arte e engenharia, pois a engenharia é a arte de inventar”, finaliza.

Quem quiser um exemplar, deve acessar: loja.editoraalbatroz.com.br, e escrever “Brumadinho: na tragédia da lama, sou um sobrevivente” no campo de busca. Disponível também na Amazon e nas Lojas Americanas.