Prefeito fala da implementação da educação em tempo integral no município, detalha o pacote de obras de R$ 280 milhões e aposta em migração social para a cidade
Em entrevista exclusiva ao jornal Folha Vale do Paraopeba, o prefeito de São Joaquim de Bicas, Guto Resende (UNIÃO), destrincha os investimentos do maior pacote de obras da história do município, fala dos planos para implementação da escola em tempo integral, realiza um balanço dos sete anos de mandato e comenta sobre as eleições 2024. Para Guto Resende, “chegou o momento de São Joaquim de Bicas” e o município deve seguir se preparando para um aumento populacional devido à migração social.
De acordo com o advogado de 40 anos, pai da Maria e do Augusto, São Joaquim de Bicas está dando um salto importante para uma melhora na qualidade de vida, o que deve atrair novos moradores oriundos de outras cidades. Segundo o prefeito, o município que já conta com mais de dois anos de transporte municipal gratuito, deve ter — até o final do ano — 92% das vias pavimentadas. Ainda, Guto Resende tem planos de implementar a educação em tempo integral, com a construção de dez novas escolas — todas com quadra poliesportiva e salas climatizadas com ar-condicionado. A conclusão da primeira delas deve acontecer em agosto, no Farofa (Nossa Senhora da Paz).
O prefeito detalhou diversas obras a serem entregues e falou das suas expectativas para o futuro da cidade. Confira a entrevista completa:
Folha Vale do Paraopeba: Vamos começar pelo grande pacote de obras anunciado no final de 2023. O senhor poderia detalhar estes R$ 280 milhões em investimentos?
Guto Resende: Quando falamos dos R$ 280 milhões, nós estamos falando de novas obras, não é nada de manutenção. São dez novas escolas que estamos construindo a partir do Programa Mãos Dadas, uma parceria com o Estado de R$ 85 milhões. Nós fizemos um empréstimo na Caixa Econômica Federal via Finisa (Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento), que são outros R$ 30 milhões. Temos R$ 110 milhões oriundos do Acordo de Reparação com a Vale e o restante é recurso próprio nosso. São obras para educação, infraestrutura e saúde. Devemos entregar 80% das obras este ano.
FVP: Quais são os planos para reestruturação da rede municipal com a construção das novas escolas?
GR: O objetivo é tentar regionalizar toda a educação infantil da nossa cidade, que tenha uma escola perto das pessoas, nos bairros. Hoje temos 13 escolas e estamos construindo mais dez. Com isso, diminui o custo de transporte escolar e aumenta a qualidade de vida dos alunos e das famílias. O menino que fica aí uma hora, ou até mais, dentro de um ônibus, vai precisar ficar apenas 15 minutos no transporte. Vai ficar mais tempo em casa, vai ter uma qualidade de vida melhor e uma segurança maior. Toda vez que a gente entra num carro, num ônibus, querendo ou não, é um risco. Ele pode ficar mais tempo na escola, porque a gente vai tentar criar o ensino integral, que além das aulas curriculares, vai ter uma aula de natação, de robótica, de balé.
FVP: Como será esse processo de regionalização das escolas na implementação do ensino integral?
GR: Quando a gente regionalizar, teremos vários locais com escolas onde não tinha. As novas escolas são enormes, com capacidade para cerca de 500 alunos por turno, como a do Farofa, que deve ficar pronta em agosto. A escola tem 8 mil m² de terreno e 6 mil m² de área construída. Também tem o Centro de Tempo Integral, que contará com uma piscina semiolímpica que já está em construção, ao lado do Complexo Didi Gouveia, no Centro.
Essa criança, quando chegar na escola nova, vai ter um poliesportivo pronto para ele utilizar, uma cantina muito maior, uma sala com acabamento em porcelanato e janela de alumínio. Todas as salas das escolas novas serão climatizadas com ar-condicionado. Com essa estrutura queremos institucionalizar a escola integral, ampliando o tempo da criança na escola, com mais atenção e atividades. Para o aluno, o integral é excepcional, pois ele vai ter oportunidade de ter mais conhecimento e muitas vezes até uma alimentação melhor, nós sabemos dos problemas sociais da cidade. Com o integral a mãe também vai poder sair para trabalhar.
FVP: Quais são as obras de pavimentação e infraestrutura do novo pacote de obras?
GR: Quando a gente fala de urbanização, falamos de uma falta de estrutura histórica de São Joaquim de Bicas. Eu recebi, em 2017, uma cidade com 26% das vias pavimentadas. Nós vamos entregar, se Deus quiser, um município com 92% de vias pavimentadas. É um salto gigantesco. Uma coisa que é importante ressaltar é que todas nossas obras de pavimentação asfáltica têm drenagem pluvial, sinalização horizontal e vertical, meio fio e sarjeta. Antes o asfaltamento era só o asfalto, aquela casquinha, mas hoje a gente vê o reflexo disso, problemas de chuva, buracos etc. Hoje não é mais assim, o Vila Rica, primeiro bairro que a gente fez, é ótimo, pouquíssimos problemas, e a grande maioria dos buracos quem faz é a Copasa.
FVP: E a interligação entre a BR-381 e a BR-262, vai sair?
GR: A primeira etapa dessa obra já está sendo feita, a interligação do bairro Teresa Cristina ao Boa Esperança. A decisão da prefeitura foi fazer a interligação, mas levando infraestrutura para os bairros. Não dá para fazer a interligação e deixar o bairro na poeira. Então vamos fazendo a urbanização e automaticamente a interligação. Há recursos para chegar até a divisa com Juatuba, e temos um acordo de cavalheiros com o prefeito de lá para que ele finalize a interligação.
FVP: As obras da área da saúde, poderia detalhar?
GR: Nesse pacote de obras, eu tenho mais três Unidades Básicas de Saúde a serem construídas. Já estamos construindo uma no Vila Rica, vamos construir uma no Casagrande, outra no Teresa Cristina e ainda vamos construir mais uma.
A primeira que está sendo construída é daquele dinheiro que a assembleia liberou para todos os municípios. Com essa nós tivemos um problema, porque a empresa que ganhou o processo licitatório declarou falência e abandonou a obra. Fizemos uma nova licitação e já tem outra empresa trabalhando lá. Essas outras unidades básicas de saúde são do Acordo de Recuperação. Estamos estimando que com o orçamento da Vale a gente consiga fazer duas com o dinheiro de uma, nosso objetivo é fazer três ou quatro, com uma estrutura ainda maior, porque o custo Vale é sempre maior que o custo do município, conseguimos negociar e economizar.
FVP: Em 2023, São Joaquim de Bicas se destacou, em diversos meses, entre os dez municípios que mais geraram empregos em Minas Gerais, alcançando 3.081 novas vagas no ano — o que representa cerca de 9% da população total da cidade. Como o senhor explica este momento?
GR: Chegou o momento de São Joaquim de Bicas. Geograficamente, a gente tem uma posição muito boa, próximo de tudo. A administração vem fazendo um papel muito importante de incentivo à empregabilidade no Banco de Emprego, que funciona muito bem. Além disso, estamos vendo um processo migratório para cá e, se a gente não incentivar o emprego, teremos problemas sociais. Eu sempre bati nessa tecla, com todas as empresas que vem conversar com São Joaquim de Bicas, o emprego tem que ser daqui. Para a empresa é muito bom e finalmente está confluindo dessa forma. Estamos trabalhando para este crescimento.
FVP: Com mais de dois anos de Tarifa Zero, com o Expressinho 0800, como o senhor avalia os impactos desta medida no município?
GR: O Expressinho é uma política social muito acertada pela nossa administração. Recentemente aumentamos as linhas e horários. Hoje temos orgulho de ter transportado mais de 1,7 milhão de passageiros desde o início das operações. Quando começou a gestão, a grande crítica da cidade era não ter uma mobilidade municipal. De muitos bairros, como Vila Rica e Belo Vale, era mais fácil ir para o centro de Igarapé do que ir para o centro de Bicas. A gente tinha uma rejeição do transporte municipal de 90%, hoje temos uma aprovação de 92%.
Para se ter uma ideia de como podemos ver essa transformação a partir do Expressinho, nós aumentamos a entrega de medicamentos em mais de 30%, o atendimento da nossa UPA aumentou em 28%, o índice de falta de pessoas nas consultas especializadas da nossa policlínica foi lá embaixo, além do comércio de um modo geral. Porque hoje a população tem acesso, tem transporte para chegar. Quem antes tinha R$ 20 para a passagem, agora gasta de outro jeito, compra um chocolate para o filho, come um cachorro-quente, compra um chinelo. Agora o dinheiro circula aqui, antes ia para as outras cidades. Quem conhece São Joaquim de Bicas sabe que existe um antes e um depois do Expressinho.
FVP: Qual balanço o senhor faz destes sete anos de governo?
GR: Primeiro, eu tenho gratidão à população de São Joaquim de Bicas durante esses sete anos, pela paciência, parceria e lealdade. Além dos fios brancos na cabeça e na barba que adquiri neste período, eu tive a honra de levar nossa cidade a um novo patamar e acho que a cidade pode voar ainda mais alto. O objetivo do meu mandato é realmente estruturar a cidade para os próximos anos e deixar uma cidade mil vezes melhor, totalmente saneada economicamente e administrativamente, com saúde e educação voando. Assim, o próximo gestor terá mais facilidade para poder desenvolver um trabalho ainda melhor do que eu fiz. É isso que eu torço como cidadão.
FVP: Como o senhor vê o futuro de São Joaquim de Bicas?
GR: A gente precisa aproveitar esse momento. Nós estamos estruturando, deixando a cidade pronta para um crescimento. Eu acredito que São Joaquim de Bicas vai explodir do ponto de vista populacional. Deixar a cidade com estrutura de saúde, educação e infraestrutura faz com que a gente tenha conforto e uma qualidade de vida. Mas a gente tem que entender que os investimentos não vão poder parar. Imagine alguém que mora numa cidade que não tem uma boa estrutura de educação, vem e conhece São Joaquim de Bicas. Descobre que aqui tem transporte municipal gratuito e pode colocar seu menino numa escola integral bacana. A tendência de uma migração social é grande.
FVP: Como o senhor já foi reeleito, não poderá participar do pleito de 2024. Quais são as expectativas para as próximas eleições e o seu sucessor?
GR: Ano eleitoral, em cidade pequena como a nossa, a emoção toma conta da pele. Nosso grupo político vem forte, eu sou só mais um. Nós temos nosso pré-candidato, o Matheus [vereador Matheus Resende], já decidimos isso em algumas reuniões partidárias. Vamos deixar a população de São Joaquim de Bicas, no momento certo, decidir. Se ela quiser que o nosso grupo político continue, nós vamos continuar, vamos torcer e o que precisar da nossa experiência estaremos à disposição.