Comissão Pró-Ferrovias avalia que combustível não poluente é alternativa para retomada do ramal de Águas Claras
A ligação ferroviária entre Belo Horizonte e Brumadinho poderia ser viabilizada com trens movidos a gás natural. A informação é dos participantes da audiência pública da Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras, realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na última semana.
O chamado ramal de Águas Claras começa no Belvedere, no extremo sul de Belo Horizonte, e poderia ser aproveitado para a implantação de um trem turístico até Brumadinho, onde fica localizado o Instituto Inhotim. O diretor da ONG Trem, André Tenuta, propôs um projeto-piloto nesse trecho, com a utilização de uma litorina (vagão dotado de motor próprio).
Segundo Tenuta, seria possível, em uma composição desse tipo, substituir o motor a diesel por outro movido a gás natural e acoplar motores elétricos nas rodas. Com nove cilindros, capacidade total de 450 metros cúbicos de gás e um gerador elétrico de 250 kW, seria possível realizar duas viagens de ida e volta no trecho, que tem 56 km de extensão.
Uma alternativa seria um sistema estacionário, no qual as baterias seriam reabastecidas em estações localizadas nos dois extremos da ferrovia. Como as viagens de trem têm distâncias e horários pré-determinados, seria viável considerar essa opção, embora ela seja menos vantajosa que o sistema com combustível embarcado, na opinião de Tenuta.
“São muitas as possibilidades que se abrem, a partir do momento em que o gás natural seja disponibilizado para esses projetos”, afirmou o diretor da ONG Trem. De acordo com ele, a conversão de antigas locomotivas movidas a diesel para o gás seria uma experiência inédita no mundo.
Exemplo internacional
Nos Estados Unidos, frotas de trens de carga utilizam o gás natural como combustível desde 2015, segundo o gerente de produto da Wabtec, Luiz Hohmann. As locomotivas Next Fuel utilizam gás natural liquefeito, reduzindo o consumo de diesel em 80% e mantendo a potência máxima, que pode chegar a 4.500 HP.
De acordo com a empresa, que tem uma fábrica em Contagem (RMBH), nada impede que testes com essa tecnologia sejam feitos no Brasil. Os pontos críticos seriam o alto custo da liquefação do gás natural e a necessidade de se implantar uma infraestrutura de abastecimento ao longo das ferrovias.
Na avaliação do gerente comercial da Gasmig, Valério Francisco Sales, o gás natural liquefeito (GNL) é uma opção viável para atender tanto trens de passageiros quanto grandes composições de carga. Segundo ele, já existem estudos demonstrando a viabilidade da combinação desse combustível com biodiesel em comboios com até 84 vagões de minério.