Em entrevista exclusiva, o jornalista e executivo comenta os principais desafios e avanços do início de governo

Heron Guimarães, prefeito de Betim, concede entrevista exclusiva à Folha Vale do Paraopeba. O executivo e jornalista reflete sobre seus primeiros meses no cargo, ressaltando a marca social de sua gestão. O prefeito destaca projetos já realizados e detalha algumas novidades, como o otimismo nas negociações do traçado do Rodoanel da RMBH e a construção do novo estádio de Betim.

Folha Vale do ParaopebaCom trajetória no meio empresarial e político, mas sendo este seu primeiro
cargo eletivo, como tem sido a experiência nestes primeiros meses como prefeito de Betim? Como foi concorrer a uma eleição pela primeira vez?

Heron Guimarães – Eu comecei no jornalismo em 1997 e já nos anos 2000 eu trabalhei com política, sendo o primeiro secretário de Comunicação de Betim, entre 2005 e 2008, no governo Carlaile. Nessa atuação, sempre fui do grupo político do Vittorio Medioli. Depois, dirigi a empresa de mídia dele, a Sempre Editora, por 12 anos.

Em 2023, pensando na sucessão do governo, alguns nomes que poderiam concorrer não emplacaram nas pesquisas e meu nome foi sugerido. A partir daí foi uma grande mudança, tudo em um ano. Em outubro de 2023, assumi a chefia de gabinete no governo Vittorio, em janeiro de 2024, a Secretaria de Saúde, e em abril me descompatibilizei para virar candidato.

Não foi uma campanha fácil, até pelas minhas próprias limitações. Uma coisa é você ficar nos bastidores, outra coisa é você estar à frente. É muito difícil pedir voto. Mas a virada de chave funcionou e ganhamos no primeiro turno.

Assumo, em 2025, uma cidade financeiramente equilibrada, graças à gestão do Vittorio, e imprimo um tom mais social para a gestão. Acredito que essa seja uma marca importante do nosso governo. Investimos muito em políticas desse tipo no primeiro semestre.

Como esse tom social pode ser visto na área da educação neste início de governo?

HG
– A distribuição dos uniformes foi muito importante neste sentido, foram mais de 60 mil uniformes. Betim nunca tinha dado aos seus alunos um kit tão completo, com tênis, meia, calça e camisa, além do kit escolar. Não é simplesmente entregar uma roupa, um pedaço de pano, é trazer dignidade para que esses meninos continuassem na escola, evitando a evasão escolar.

Criamos o Caminhos para Igualdade, um projeto de reforço da identidade preta e indígena na formação do país e da cidade. Um programa que gerou muita polêmica na Câmara, mas era algo que a gente imaginava e reforçamos nosso posicionamento, era um compromisso de campanha.

Trouxemos o Qualifica Betim, uma parceria com a Universidade Federal de Viçosa – Campus Florestal. Um programa focado na EJA, em jovens e adultos, para que tenham qualificação e formação. O projeto tem turmas em agropecuária, energias renováveis, administração, informática e segurança do trabalho. São áreas que têm espaço para ensino técnico e trabalho na região, não só em Betim como no Médio Paraopeba todo.

Agora, já estamos partindo para uma outra iniciativa, que é a inclusão da robótica como disciplina extracurricular nas escolas municipais, em uma parceria com a Fiemg. No segundo semestre já devemos ter essas aulas, pelo menos em núcleos regionais, para depois avançar para os nossos mais de cem equipamentos de educação.

Dando sequência às obras da gestão passada, neste sábado (2), estamos inaugurando a primeira escola totalmente integral do município. A escola vai ser no Citrolândia, para cerca de 800 alunos, com as aulas iniciando já na próxima semana. Temos também outras escolas e creches em construção.

Então, isso mostra nosso compromisso de ter uma formação mais proativa, mais técnica, para que o próprio mercado possa absorver esses meninos de uma forma mais prática, mais objetiva.

No 1º semestre deste ano, Betim registrou o menor índice de crimes violentos desde 2012. Quais os principais fatores para este marco?

HG – Acredito que esteja ligado a todo esse ecossistema da educação que a gente herda do Vittorio. Se hoje temos os menores índices de violência desde 2012, bate muito com o que foi feito em política de creches e escolas desde 2017. O menino que nasceu em 2017, hoje faz 8 anos, aqueles que tinham 6, 7 anos na época, estão chegando aos 14, 15 anos. Essa é a idade mais vulnerável, momento que pode começar a ter acesso à criminalidade.

Assim, mesmo os resultados não refletindo diretamente no IDEB e notas do Ministério
da Educação, acredito que a queda nos índices esteja ligada a uma sólida política de educação. Claro, também está atrelada ao fortalecimento da Guarda Civil e políticas de segurança integrada com outras forças policiais do estado. Mas, para mim, a educação foi a grande responsável por essa virada na segurança que está acontecendo agora.

Como tem sido o enfrentamento aos desafios da área da saúde?

HG – A saúde é o nosso maior desafio, hoje, é aquilo que mais consome recursos, depois da folha de pagamento. Nós temos um investimento na saúde que ultrapassa R$ 800 milhões, o que representa mais de 26% do orçamento municipal, bem maior do que os 15% determinados pela legislação. Atendemos Betim e outros 12 municípios da região, são mais de 1 milhão de usuários, temos que otimizar esses recursos.

Temos muito a avançar, mas recentemente inauguramos o Serviço Especializado do Rim (SER), com estrutura para mais de 600 atendimentos de hemodiálise. É um centro de excelência com um conceito de conforto e acolhimento que queremos expandir para outras especialidades. A oftalmologia e a oncologia são os próximos passos.

Chamamos quase 2 mil pessoas do concurso da saúde realizado no último ano, com mais de 1.400 já empossados. Esse aumento do funcionalismo também é uma estratégia de sustentabilidade para o Instituto de Previdência Municipal de Betim (Ipremb). O Ipremb tem segurança para funcionar nos próximos 10, 12 anos, mas, para ampliar esse funcionamento, é preciso novos servidores efetivos que vão fazer a roda girar.

Nós temos UBSs sendo revitalizadas, como a nova UBS do Alterosa que está prestes a ser inaugurada. Temos dinheiro em caixa para fazer a licitação da UPA Teresópolis, mas estamos com um problema no local, porque tem uma adutora da Copasa e vamos ter que arrumar outro local para construir essa nova unidade.

Temos a construção do centro de imagem, juntamente com outro prédio de seis andares, que será anexo ao Hospital Regional. Um CTI com 40 leitos e, também, um edifício garagem. Além disso, reforçamos nossas estratégias para evitar filas nas consultas e procedimentos especializados.

Qual a atual situação do traçado do Rodoanel da RMBH? Betim e o Governo do Estado seguem negociando novas propostas?

HG – Até algumas semanas atrás, a gente estava numa resistência muito grande, mas o Governo do Estado apresentou um novo traçado. Não ficou como o Vittorio queria lá atrás, mas ficou de um jeito que dá para avançar com mais algumas alterações pontuais. O novo traçado proposto diminui consideravelmente o número de desapropriações, evitando áreas muito povoadas.

Faltam três detalhes, um ajuste no traçado que está no terreno onde a gente quer construir o estádio. A outra é a contrapartida de três obras na nossa Via Expressa, que irá ligar o Partage até o novo aeroporto e Inhotim. A terceira é resolver conflitos de quem já tem projetos aprovados em locais que o novo traçado deve passar. Então, estamos otimistas.

O estádio segue na pauta da prefeitura? Quais as expectativas do município para esta obra?

HG – Primeiro, precisamos resolver a situação do traçado, mas acredito que não haverá problema nesse sentido. A ideia é diferente da do Vittorio, que buscava uma parceria com o Cruzeiro para um estádio de 40 mil pessoas.

Nosso contrato é mais modesto, um estádio para 12 a 20 mil pessoas, mas com capacidade para receber até mesmo competições internacionais. Ao lado, faremos uma esplanada para a realização de grandes eventos.

Na esplanada, poderemos voltar com a Feira da Paz e Betim Rural, por exemplo. Hoje, nós não temos espaço para isso. E já contamos com um projeto que utiliza a técnica Light Steel Frame, utilizando o mesmo modelo do Red Bull Bragantino, em São Paulo, que construiu seu estádio em apenas oito meses.

Como está o andamento das obras do aeroporto da cidade?

HG – O aeroporto é uma iniciativa privada. O município entrou com as desapropriações e, com isso, vamos receber royalties de pouso, decolagem e combustível. Os valores vão retornar para o Ipremb. Segundo os empresários, a obra está com cerca de 35% de desenvolvimento, com previsão para inauguração em 2027. A área compreende 4 milhões de metros quadrados.

A prefeitura tem um projeto de construção de uma Vila Olímpica no antigo Clube da Fiat. Como será a estrutura e projeção de funcionamento?

HG – Estamos em uma fase de movimentações cartoriais, uma parte ficou com a Fiemg, que construiu uma escola de maquinário pesado, e outra parte ficou com a prefeitura. O local foi permutado por uma área no entorno da Stellantis.

Já estamos fazendo reformas no local, que vai receber os Jogos Escolares de Betim a partir do final de agosto. Essa será uma forma do público estudantil e esportivo ter o primeiro contato com essa nova estrutura.

Provavelmente a Secretaria de Educação vai para lá também, porque nós podemos usar verbas do fundo da educação (Fundeb) para as estruturas. Será um centro esportivo e educacional importante para o município.

Betim está retornando às associações municipais da região metropolitana e do estado, quais os objetivos e a relevância dessa iniciativa? Há alguma possibilidade de voltar para o Icismep?

HG – Nós entendemos que Betim precisa dessa integração com a vizinhança. Por isso, filiamos à Granbel, da RMBH, que hoje tem como presidente o prefeito João, de Nova Lima. Precisamos discutir coisas que são comuns entre as cidades, como transporte público e segurança. Além de outras demandas que, unidos, os municípios podem resolver melhor e com maior eficiência.

Para também não ficarmos isolados com relação a outras situações de Minas Gerais, filiamos à Associação Mineira de Municípios (AMM). A AMM traz muitos benefícios para o município, como formação, gestão e escola de líderes. Bem como nos filiamos à Frente Nacional de Prefeituras. Por quê? Porque precisamos de força, de representatividade municipalista, para questões como a nova Reforma Tributária, que deve diminuir a arrecadação de cidades produtoras, como Betim.

Durante um tempo, na própria gestão do Vittorio, se entendia que não precisava fazer parte porque era um momento de escândalos e confusões nessas entidades. Mas, agora, acreditamos que são pessoas sérias à frente das entidades e nossos objetivos são de integração e não outras questões.

Sobre o Icismep, a tendência é que a gente volte ao consórcio, mas com moderação. Queremos ser parceiros, sobretudo na compra facilitada de medicamentos que o Icismep tem conseguido fazer.

Outra questão marcante neste início de mandato é a nova reforma administrativa. Na prática, como a população poderá sentir os efeitos dessa reforma?

HG – Nós dividimos a prefeitura em três grupos de secretarias, o assessoramento direto do prefeito, as secretarias meio e as secretarias fim. Implementamos também a Fundação Beta, que atua como uma gestora de projetos, além de instituir novas secretarias como a de Mobilidade Urbana — requisito do Ministério das Cidades para municípios com mais de 200 mil pessoas.

Essa nova organização tem como benefício direto a desburocratização. Uma cidade amiga da liberdade econômica, nos termos do Governo de Minas. Mudanças na classificação do risco e simplificação de regras, avanço na digitalização e do zoneamento, revisões normativas, entre outras medidas.

A entrevista foi publicada em nossa edição impressa de 1º de agosto. Na próxima edição, vamos repercutir outros dois assuntos tratados na entrevista com o prefeito Heron Guimarães: o transporte público e a requalificação urbana do centro da cidade.

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