De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde, o consumo de antidepressivos em Brumadinho de janeiro a novembro de 2019, teve um crescimento de 56% em relação ao consumo de 2018
Há um ano, o rompimento da Barragem I da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, liberou aproximadamente 9,7 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração. Uma lama que destruiu tudo que via pela frente. Comunidades, pontes, áreas florestais e de cultivo e a vida de mais de dezenas de pessoas. Devastando tudo, até alcançar a confluência do Ribeirão Ferro-Carvão com o Rio Paraopeba, a cerca de 9 quilômetros da barragem.
Segundo os laudos apresentados pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), no dia 21 (terça-feira), os danos causados à fauna e flora são irreversíveis. Agora, 365 depois, a cidade carrega marcas da tragédia e tenta lidar com o aumento da população de 5 mil pessoas.
“Nossa cidade continua muito triste”, disse o Prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo (PV). Segundo o líder do executivo municipal, há mais de 2 mil pessoas com problemas psicológicos dentro do município. “Precisamos de mais médicos como psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais. E vamos solicitar que a Vale pague por esses profissionais.”
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde, o consumo de antidepressivos em Brumadinho de janeiro a novembro de 2019, teve um crescimento de 56% em relação ao consumo de 2018. Já os ansiolíticos de janeiro a novembro de 2019, apontaram 79% de aumento em relação 2018.
No primeiro semestre de 2019 foram registradas 39 tentativas de suicídio na cidade (11 entre homens e 28 entre mulheres), 9 a mais do que no mesmo período do ano passado – uma alta de 23%. Em relação aos suicídios, o número passou de um, em 2018, para 3 este ano.
Em entrevista ao Estadão, de São Paulo, em setembro de 2019, o secretário municipal de Saúde de Brumadinho, Junio Araújo Alves, disse que a maioria dos casos de suicídios são de mulheres que perderam filhos e marido. “A sensação de perda para elas é maior para ressignificar a vida. Essa é uma face do adoecimento mental da população. Estamos trabalhando para evitar um quadro ainda pior”, afirmou o secretário.
Superpopulação
Avimar de Melo destaca que outro problema que ocorreu em Brumadinho, foi o aumento acelerado de pessoas que passaram a morar no município. Nos últimos 12 meses, cerca de 5 mil pessoas começaram a viver na cidade.
“Não é fácil, a tragédia mudou a vida do povo. Não apenas para quem perdeu vítimas, mas também no trânsito de Brumadinho. Pois hoje temos mais de 5 mil pessoas desconhecidas trabalhando e morando dentro de Brumadinho, pela Vale”, disse o prefeito.
O prefeito chama atenção sobre esse problema que reflete diretamente no trânsito da cidade. Segundo ele, fica impossível de dirigir com tantos veículos na rua. “O trânsito ficou pesadíssimo, você não consegue entrar na cidade mais. Muita poeira, muito caminhão de lama passando pra lá e pra cá. Isso dificultou vida dos moradores antigos”, finaliza.
Hoje, ele estará presente durante todo dia em homenagens às vítimas do crime da Vale. Logo de manhã, fará parte da cerimônia de lançamento da Pedra Fundamental do Memorial no Córrego do Feijão.
Depois ele segue para outros atos. (Confira a programação completa no final da matéria). Lembrando que, a qualquer momento, os eventos podem ser cancelados ou sofrerem alteração, isso por conta da forte chuva que cai, há 24 horas, na região metropolitana de Belo Horizonte. Brumadinho e cidades vizinhas estão em alerta de emergência.
Atualmente, o crime da Vale segue com o total de 270 vítimas – 259 mortos e 11 ainda desaparecidos. O Corpo de Bombeiros está no local há um ano, trabalhando ininterruptamente em busca dos corpos.
Ministério Público
Na última terça, 21, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciou 16 pessoas por homicídios dolosos duplamente qualificados, por 270 vezes, a respeito do rompimento da barragem em Brumadinho. Todos os acusados também responderão pela prática de crimes contra à fauna, flora e crime de poluição. As empresas Vale S.A. e Tüv Süd Bureau também foram denunciadas pelos mesmos crimes ambientais.
Segundo o relatório do MPMG, o objetivo da mineradora era esconder do Poder Público, sociedade, acionistas e investidores a situação de insegurança de várias das barragens de mineração mantidas pela Vale. “Com o apoio da Tüv Süd, a Vale operava uma caixa-preta com objetivo de manter uma falsa imagem de segurança da empresa de mineração, que buscava, a qualquer custo, evitar impactos a sua reputação e, consequentemente, alcançar a liderança mundial em valor de mercado”.
Além das duas empresas, 11 indiciados e denunciados ocupavam, à época da tragédia, os seguintes cargos na Vale:
1. Fabio Schvartsman (diretor-presidente);
2. Silmar Magalhães Silva (diretor do Corredor Sudeste);
3. Lúcio Flávio Gallon Cavalli (diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão);
4. Joaquim Pedro de Toledo (gerente-executivo de Planejamento, Programação e Gestão do Corredor Sudeste);
5. Alexandre de Paula Campanha (gerente-executivo de Governança em Geotecnia e Fechamento de Mina);
6. Renzo Albieri Guimarães de Carvalho (gerente operacional de Geotecnia do Corredor Sudeste);
7. Marilene Christina Oliveira Lopes de Assis Araújo (gerente de Gestão de Estruturas Geotécnicas);
8. César Augusto Paulino Grandchamp (especialista técnico em Geotecnia do Corredor Sudeste);
9. Cristina Heloíza da Silva Malheiros (engenheira sênior junto à Gerência de Geotecnia Operacional);
10. Washington Pirete da Silva (engenheiro especialista da Gerência Executiva de Governança em Geotecnia e Fechamento de Mina);
11. Felipe Figueiredo Rocha (engenheiro civil, atuava na Gerência de Gestão de Estruturas Geotécnicas).
Da Tüv Süd, empresa alemã responsável pelo laudo que atestou a segurança da barragem, cinco pessoas foram indiciadas e denunciadas:
1. Chris-Peter Meier (gerente-geral da empresa);
2. Arsênio Negro Júnior (consultor técnico);
3. André Jum Yassuda (consultor técnico);
4. Makoto Namba (coordenador);
5. Marlísio Oliveira Cecílio Júnior (especialista técnico).
Programação do ato em homenagem às vítimas de Brumadinho:
Dia 25/01
Ato de 1 ano (todos de Branco)
8h- Lançamento da Pedra Fundamental do Memorial no Córrego do Feijão (Restrito às famílias das vítimas)
10:30 – Concentração e homenagens (estacionamento central)
11h45 – Caminhada até o letreiro da cidade
Apresentação solene do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais
Minuto de silêncio
Minuto de aplausos
1ª Romaria da Arquidiocese de Belo Horizonte pela ecologia integral à Brumadinho
Santuário arquidiocesano Nossa Senhora do Rosário
Rua Coronel Alberto Cambraia, 140 Bairro Santa Cruz
8h – Celebração da palavra (no Santuário Nossa Senhora do Rosário)
9h- Concentração com as Guardas de Congado (letreiro da entrada da cidade)
10h- Caminhada da Romaria (do letreiro da cidade ao estacionamento central)
10h30 – Ato das famílias (estacionamento central)
12h – Santa Missa (Igreja Matriz de São Sebastião)
12h – Santa Missa (Comunidade Nossa Senhora das Dores, Córrego do Feijão)
15h- Mística com as comunidades indígenas (estacionamento central)
17h- Santa Missa presidida por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB.
19h-Momento Cultural
2ª Caminhada da Solidariedade (por todas famílias vítimas da tragédia em Brumadinho) – todos de Branco
9h- Saída da quadra de esportes, passando pelo estacionamento central e seguindo junto às famílias até o letreiro da entrada da cidade.