ONG encontrou metais pesados na água acima do limite permitido por lei.
Relatório da ONG SOS Mata Atlântica divulgado na quarta-feira (27/2) mostrou que as águas do Rio Paraopeba não estão em condições de uso e vida aquática. O manancial foi seriamente afetado pelos quase 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos da barragem da Vale, que se rompeu em Brumadinho no dia 25 de janeiro. A organização fez uma expedição de 2.000 km por estradas, passando por 21 cidades, para analisar a qualidade da água em 305 km do rio.
Segundo o documento, dos 22 pontos analisados, 10 apresentaram resultado ruim e 12 péssimo. Foram encontrados metais pesados na água como manganês, cobre e cromo em níveis muito acima dos limites máximos fixados na legislação. Ainda segundo a ONG, 112 hectares de florestas nativas foram devastados. Destes, 55 eram áreas preservadas.
“Os metais presentes na água nessas quantidades são nocivos ao ambiente, à saúde humana, à fauna, aos peixes e aos organismos vivos. Eles são reconhecidamente poluentes severos e podem causar diversos danos aos organismos, desde interferências no metabolismo e doenças, até efeitos mutagênicos e morte”, destacou a professora e coordenadora do Laboratório de Análise Ambiental do Projeto Índice de Poluentes Hídricos (IPH), da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), Marta Marcondes.
Segundo o estudo, a condição de contaminação do rio exige monitoramento permanente e por longo prazo. Como as características dos rejeitos podem se modificar ao longo do tempo, a instabilidade nos indicadores de qualidade da água pode durar décadas.
Espera
Familiares dos cerca dos 122 desaparecidos ainda aguardam que os corpos de seus parentes e amigos sejam encontrados. Além desses, a tragédia provocou, até o fechamento desta edição, 186 mortos.
No dia 25 de fevereiro, quando se completou um mês do ocorrido, familiares das vítimas se reuniram no Centro da cidade para prestarem homenagens. Vestindo roupas brancas, eles realizaram uma cerimônia para homenagear os bombeiros, militares e voluntários que atuam nos trabalhos de buscas às vítimas do desastre.
Portando balões, faixas e cartazes com mensagens de protesto, os manifestantes também foram até a ponte sobre o Rio Paraopeba. No local, a banda local apresentou o hino nacional e os presentes fizeram orações em memória às vítimas. Por volta de 12h30, próximo ao horário do rompimento, um helicóptero lançou pétalas de rosas sobre o rio.
Buscas continuam
De acordo com o porta-voz do Corpo de Bombeiros, tenente Pedro Aihara, as buscas permanecem firmes, sem previsão para terminar. “Só anunciaremos o fim das buscas quando todos os corpos tiverem sido encontrados ou quando atingir o patamar de ser impossível localizá-los, devido a decomposição da matéria orgânica junto à lama. Fora isso, continuaremos na região”, disse.