Na terceira entrevista da série especial com os prefeitos das cidades onde a Folha Vale do Paraopeba circula, o prefeito de Betim, Vitorio Medioli, fala sobre as dificuldades enfrentadas com a queda na arrecadação e atraso nos repasses, mas também dos projetos que implementou até então. Ele ainda destaca obras a serem entregues até o fim do mandato, como o polo cultural a ser erguido na praça Milton Campos e finalização do teatro.
FVP: Qual balanço o senhor faz da sua gestão até o momento?
Vittorio: Muito desafiadora. Encontramos o município com R$ 2 bilhões em dívidas, práticas administrativas muito problemáticas e pouco eficientes. Na primeira etapa tivemos que colocar a casa em ordem, cortar cerca de 500 cargos, reduzir a máquina, os custos e dar mais eficiência. Betim enfrentou uma queda de arrecadação em termos reais. O município participava do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em 9,74% e caiu para 5,96% em 2019. Cada um por cento desse ICMS representa cerca de R$ 130 milhões. Perdemos quatro pontos, então foram R$ 500 milhões de perdas. Betim não conhecia queda de arrecadação desde 1988, quando toda a estrutura da prefeitura era baseada numa arrecadação muito alta, era a segunda maior no Estado. Essa inversão começou a partir de 2014/ 2015, mas os efeitos piores se deram exatamente a partir de 2017 e 2018 e o encolhimento da economia nacional e mineira também foi de mais de 20%. Entretanto conseguimos pagar as dívidas que herdamos, regularizar o fornecimento de materiais, de prestação de serviços e olhar para a capacidade de atendimento, especialmente na área de saúde.
FVP: De que forma o atraso nos repasses do governo estadual aos municípios comprometeu o seu governo?
Vittorio: Os atrasos na saúde, por exemplo: o Estado deveria contribuir no mínimo com R$ 3 milhões por mês. O ideal seria de R$ 5 a 6 milhões. E Betim, como sede da urgência, emergência e alta complexidade, acaba atraindo pessoas de outras cidades nos pronto-atendimentos. Só no período de maior incidência da dengue tínhamos um terço de pacientes que vinham de municípios de fora. Como eu disse, perdemos aproximadamente R$ 500 milhões de arrecadação pela participação no ICMS. Além disso, o Estado nos tirou, nos últimos três meses do ano passado e nos primeiros deste, R$ 250 milhões. Nos últimos quatro anos, a perda de Betim foi de cerca de R$ 700 milhões de repasse. Tudo impactou e caiu dentro do meu mandato. Eu espero que nos próximos dois anos não se repitam outras quedas de arrecadação por fatores externos e que o Estado respeite o pacto federativo, o repasse constitucional, até porque foi o único Estado do Brasil que ousou tirar dinheiro dos caixas das prefeituras. Não foi falta de repasse, foi feita uma apropriação indébita de recursos do município.
FVP: E como o senhor tem tentado contornar essa situação?
Vittorio: Trabalhando com honestidade. Demos eficiência na aplicação de recursos comprando mais barato. Passamos a comprar direto dos fabricantes e não de atravessador. Assumimos um controle mais rígido dos estoques e das farmácias. Regularizamos 99% dos salários e sempre pesando cada centavo gasto, porque não há mais folga financeira.
FVP: Qual ou quais os principais avanços da atual gestão?
Vittorio: Ampliamos atendimentos na oftalmologia. Atualmente somos o município em Minas Gerais que mais atende cataratas e cirurgias oftalmológicas. Zeramos o déficit da hemodiálise e ainda geramos um superávit de 130 pacientes de fora, que passamos a atender. Lançamos a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte, que havia sido construída em 2012, mas era insuficiente. Ela foi aumentada e o projeto também foi refeito, instalando uma área pediátrica. Nos primeiros dois anos iniciamos três avenidas sanitárias com recursos de contrapartidas e resgates da Caixa, nenhuma fonte tradicional de captação de recursos. Devemos lançar mais duas avenidas sanitárias nos próximos dias. Na educação focamos na área pré-escolar com um plano de creches de tempo integral. Temos quatro prontas, vamos entregar sete nos próximos quatro meses e lançar mais 12 creches para ficarem prontas até o final de 2020. Havia muitas em imóveis alugados e agora serão instaladas em prédios próprios, projetadas com métodos pedagógicos melhores do que os atuais em ambientes improvisados. Também ativamos e reestruturamos uma rodoviária que há sete anos havia sido entregue, mas não colocada em funcionamento. Foram construídos os setores 2 e 3 do Distrito Industrial do Bandeirinhas, onde temos 65 empresas se instalando. Destravamos o projeto Via das Indústrias, consórcio que também deverá atrair mais empresas. O projeto prevê dois viadutos e uma trincheira, todos em fase de execução. Entre outras obras de infraestrutura. Também conseguimos aprovar o projeto do aeroporto. A retomada das obras depende da iniciativa privada, mas a qualquer momento vai ocorrer. O momento do Brasil é complicado, mas aguardamos as reformas, que, se saírem, destravam a economia. Na verdade, todos os investidores aguardam isso. Elas sendo aprovadas haverá um surto de crescimento.
FVP: Quais obras ou projetos devem ser executados até o final do mandato?
Vittorio: No setor de saúde lançamos de imediato um novo Centro Materno-Infantil, que praticamente dobra a capacidade do Hospital Regional. Ele deve ficar pronto no final do ano e iniciar as atividades em abril ou maio do ano que vem. Lançaremos a UPA Alterosas também no primeiro trimestre do ano que vem e vamos entregar oito Unidades Básicas de Saúde. Também vamos inaugurar o almoxarifado do Hospital Regional, que esvazia o primeiro andar, instalando nele mais quatro salas cirúrgicas, além de ampliar a UTI e o pronto-socorro. Fazer de Betim uma referência em saúde é o nosso compromisso. Vamos lançar o término do viaduto Jacintão, além de cinco trincheiras e três viadutos, que ganhamos o parecer do MPF obrigando a VLI a transferir os recursos para a prefeitura tocar essas obras. E vamos lançar, ainda no mês de junho, a etapa Cidade do Bem 2.
FVP: Do que se trata o Cidade do Bem 2? Quais projetos serão incluídos nele?
Vittorio: A Cidade do Bem 1 já realizou onze creches, oito UBSs, duas UPAs o Centro-Materno Infantil, três avenidas sanitárias, e outras obras de menor porte. Na segunda etapa lançaremos um número de obras que é superior ao que fizemos até então. Estão previstas: mais creches, 12 ou 14 UBSs e duas avenidas sanitárias. Os investimentos não são do orçamento público, mas de contrapartidas, resgates e ações judiciais que ganhamos. Também conseguimos verbas de incentivo para finalizar o teatro. Juntamente, haverá uma reestruturação de toda a praça Milton Campos pra dedica-la a cultura, com um museu. É um projeto que não envergonharia nem Paris. Betim não tem um ponto de atração turística e vamos fazer algo semelhante a Tiradentes nessa região. Estão sendo preparados alguns monumentos de grandes artistas, com verbas de incentivo. Eu quero transformar essa praça num polo cultural. Na etapa 2 teremos ainda a reativação da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) do Gravatá e a instalação da energia fotovoltaica no telhado da prefeitura. E a etapa 3 pretendemos lançar para execução nos últimos oito meses do mandato. Nesta esperamos inserir as transposições da VLI e algumas obras de macroestrutura que estão sendo negociadas, além do preenchimento do que pode estar faltando no setor de saúde.

FVP: Qual a sua expectativa com os novos investimentos da Fiat?
Vittorio: Se houver a fusão da Fiat com a Renault, Betim estará feita. Para o município seria excepcional porque essa fábrica é a segunda maior do mundo em termos de produção, mas, poderia produzir 400 mil veículos a mais do que está produzindo. Significaria para a região voltar ao que foi em 2012, mas de forma mais estruturada. Nós já preparamos uma etapa para poder receber mais ou menos 200 indústrias e fazer um polo automotivo estruturado até o final do mandato.
FVP: Quais são os seus planos políticos para o futuro?
Vitorio: Não penso em política. Espero deixar um exemplo de como as coisas têm de ser feitas. Betim precisava ter um exemplo de condução austera, dedicada, respeitosa, sobretudo para a população mais carente.