Ao todo, 270 pessoas perderam a vida e 11 ainda continuam desaparecidas

Todos mineiros, brasileiros e pessoas de outros países ficaram horrorizadas ao assistirem pela televisão a lama que descia em Brumadinho após o rompimento da barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, no dia 25 de janeiro de 2019, despejando cerca de 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos por onde passava, causando a morte de 270 pessoas. Entre o total de atingidos, há ainda 11 joias – como são chamadas as vítimas pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) – para serem encontradas.

Desta forma, o CBMMG e o Governo do Estado seguem firmes no compromisso para dar continuidade a maior e mais longa Operação de Busca já realizada no Brasil e no mundo, até que todas as vítimas sejam encontradas ou que não haja mais condição fática de prosseguir.

São pouco mais de 700 dias trabalhando na região, com exceção da pausa entre março e agosto do ano passado em função da pandemia de Covid-19. Além disso, a operação ocorre de forma ininterrupta, sem parar em feriados e fins de semana.

Atualmente, mais de 91 máquinas pesadas atuam simultaneamente nas buscas pelos desaparecidos na cidade, com um efetivo de 60 militares. Destes, 40 atuam na “zona quente” – local de buscas onde estão os rejeitos – e o restante na “Base Bravo”, estrutura responsável por acomodar os militares, viaturas, drones e concentrar as atividades de inteligência.

De acordo com a corporação, toda ação voltada para as buscas dos desaparecidos se torna mais complicadas quando se tem que lidar com tempo chuvoso – quando as buscas são paralisadas – e com a decomposição avançada de material humano.

No total, mais de 3 mil bombeiros de todo Brasil já passaram pelo local, além da ajuda do exército de Israel com equipamento tecnológico. Em 24 meses de trabalhos dos bombeiros, as buscas já tiveram sete fases. Neste ano, irá iniciar a oitava com uma novidade.

Segundo o porta-voz dos CBMMG, o tenente Pedro Aihara, trata-se de um equipamento sensorial que pode estar entrando em ação nas próximas semanas. Ele tem como objetivo, por meio de algumas etapas, separar o que é terra do fragmento de corpos dos desaparecidos. Até então esse procedimento é feito de maneira visual e manual.

“Cada estratégia de busca contempla as necessidades diferentes que tivemos que passar no terreno, por exemplo no período inicial que a lama estava mais maleável, e hoje está mais rígida. Então nesse caso mais de 91 equipamentos, como 41 retroescavadeiras, estão sendo utilizadas, cada uma, sob o comando de um militar. Sendo assim, é retirado com a concha do veículo rejeitos no local, então eles levados e despejados à frente do militar para uma inspiração minuciosa. Em seguida, o mesmo rejeito é conduzido para uma área de descartes para a vistoria de outros bombeiros. Em média, cada metro cúbico é vistoriado pelo menos três vezes para a gente garantir que nada passe despercebido”, relata o tenente.

O militar elucida que para este ano já está em estudo a aquisição de novos equipamentos que vão auxiliar mais ainda na busca territorial. Em dois anos, 30% do volume de rejeitos já foi vistoriado.

Apesar de toda dificuldade, Pedro revela que o que motiva todos os bombeiros a continuarem na luta é o compromisso com as famílias. “É muito importante encontrar essas pessoas desaparecidas para que suas famílias possam dar continuidade ao processo de luto tão trágico que elas passam. Nosso trabalho é esse, levar um pouco de acolhimento e respeito para que essas famílias possam velar seus entes queridos”, finaliza.

Vítimas de Brumadinho

Desde 28 de dezembro de 2019, nenhum corpo novo foi identificado no local. Pedro esclarece que apesar de no trabalho de busca serem encontrados fragmentos de restos humanos, em algumas situações, esse material pertence a alguém que já foi identificado pela inteligência da Polícia Civil.

Segundo levantamento feito pela Vale, o total de vítimas atingidas no dia 25 de janeiro de 2019, é de 665. Durante os primeiros dias de buscas, foram localizadas 395 pessoas com vida. Os corpos identificados pelo Instituto Médico- -Legal (IML) chegam a 259, sendo 123 funcionários da mineradora e 136 terceirizados ou moradores da comunidade.

Homenagem

Na data em que completou dois anos do crime socioambiental e humanitário ocorrido em Brumadinho, o governador Romeu Zema (Novo) participou, junto aos familiares das vítimas, bombeiros e convidados, de uma homenagem pelos dois anos da tragédia em Brumadinho.

Além do Comandante-Geral do CBMMG, Coronel Edgard Estevo da Silva; do Chefe do Estado-Maior, Coronel Erlon Dias do Nascimento Botelho; do Comandante da Operação, Coronel Alexandre Gomes Rodrigues; também estiveram presentes representantes da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum) na cerimônia que ocorreu na Base Bravo.

No letreiro da cidade, familiares também prestaram uma bela homenagem com flores, balões, reflexões e gestos de solidariedade pelas vítimas. Mais tarde, na Base Bravo, em ato solene, eles receberam das mãos do governador e dos bombeiros rosas que foram colocadas sobre as cruzes que simbolizavam as 270 vítimas da catástrofe, enquanto no céu, uma aeronave despejava pétalas sobre o grande pátio em que se encontravam as cruzes.

Manifestações

Protestos também ocorreram em 25 de janeiro. Contudo, devido a pandemia de coronavírus, os atingidos pela tragédia da barragem em Brumadinho organizaram atos simbólicos nos municípios afetados pelo rompimento da barragem sem muita aglomeração.

Em Betim, logo de manhã, a rodovia MG 155 foi fechada na altura Citrolândia, com cartazes deixando claro o descontentamento com a falta de participação no acordo judicial tratado às portas fechadas entre o governo de Minas Gerais e a empresa. Ainda na cidade, ocorreu no Cine Glória depoimentos para lembrar das vidas perdidas. Ao Meio dia, em São Joaquim de Bicas, foi efetuado um ato na balsa que liga essa cidade ao rio Paraopeba.

Ainda pela manhã, na ponte sobre o rio Paraopeba que corta a cidade de Brumadinho, após jogarem às 11 rosas no rio, representando os desaparecidos, os atingidos seguiram para o letreiro da cidade, que fica na entrada de Brumadinho, e é o local onde as famílias das vítimas se reúnem desde o dia do rompimento, há dois anos.

De acordo com o representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Joceli Andrioli, as manifestações ocorreram devido a impunidade da Vale após mais de 700 dias da tragédia.

“Na semana passada (25/01), completou dois anos do crime da Vale em Brumadinho, e também dois anos de impunidade da empresa, pois até agora foram denunciados por volta de 16 funcionários da mineiradora pela CPI e Ministério Público de MG, mas a empresa está impune, ninguém foi preso. Os atos também eram pela reparação integral aos atingidos. As famílias estão esperando há dois anos por uma definição seria sobre suas vidas. A Vale deve garantir que essas pessoas tenham de fato um programa de reparação integral. E também o maior desafeto dos atingidos é sobre o Governo de MG realizar os acordos deixando os maiores prejudicados de fora das reuniões”, explicou Joceli.

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