Prefeita de Betim por duas vezes, a pré-candidata fala das realizações do passado, do desemprego e avalia a atual gestão
Na quinta entrevista com pré-candidatos às prefeituras, a Folha Vale do Paraopeba conversou com a professora e psicóloga Maria do Carmo, pré-candidata à prefeitura de Betim pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Maria do Carmo já foi prefeita do município por duas vezes (1993-1996 e 2009- 2012) e deputada federal por três mandatos. Ainda sem pré-candidato a vice-prefeito confirmado, ela revela a conversa com outros partidos de esquerda e centro esquerda para fortalecer a legenda.
Aos 66 anos, a ex-prefeita, que também já foi coordenadora da Fundação Helena Antipoff, em Ibirité, destaca o que pretende fazer caso consiga ocupar o cargo máximo do executivo pela terceira vez, avalia a atual gestão e o período pós-pandemia. Confira:
Folha Vale do Paraopeba: Por duas vezes, a senhora ocupou o cargo de prefeita em Betim. Qual a autoavaliação que você faz?
Maria do Carmo: No meu primeiro mandato (1993- 1996), Betim não tinha estrutura nenhuma. Fizemos o “Ilumina Betim”, e colocamos 5 mil postes de luz na cidade. Implantamos rede de esgoto em muitos bairros, a rede municipal de educação em creches e o Sistema Único de Saúde (SUS). Tudo com participação popular. Eu saí com uma avaliação boa. No segundo (2009-2012), teve a educação integral, para 12 mil alunos, em 37 escolas. Pegamos a cidade no primeiro lugar de violência contra jovens, e entregamos em 2013 numa melhor posição. Conseguimos aumentar o salário dos funcionários públicos. Trouxemos o Minha Casa Minha Vida, contudo eu sai com uma grande rejeição. Talvez tenhamos cometidos erros na composição do governo, mas nosso maior erro foi não conseguir fazer o contraponto a um jornal local, que desde o primeiro ao último dia do mandato bateu na nossa administração sistematicamente. Tivemos muitos processos contra esse jornal. Mesmo assim perdemos as eleições de 2012. Hoje o povo começa a perceber a diferença do que eu fiz, para o que os outros prefeitos fizeram.
FVP: Como a senhora pretende lidar com uma cidade pós-pandemia?
Maria do Carmo: Eu pretendo governar com a participação popular. Gostaria substituir contratados da prefeitura por pessoas concursadas, oferecendo a eles uma carreira. Apoiar o SUS, que tem sido essencial nesta pandemia. É necessário disponibilizar médicos, remédios, fornecer exames e investir no Sistema Único de Assistência Social, o SUAS. Estudamos também criar um cartão social para que ninguém passe fome no pós-pandemia, e, paralelo a isso, iremos gerar emprego e renda para fortalecer empresas locais. Vamos também trabalhar com as cooperativas, estimulando o crescimento desse setor.
FVP: Mas não é um problema crônico a falta de profissionais da saúde?
Maria do Carmo: Sim, no segundo mandato passamos por isso, não tinha médico para contratar. Mas o médico é um dos profissionais que, mesmo sem concurso, você pode fazer o contrato. E nós não tiramos médicos. Quando faltava, era por que eles passavam mal ou tiravam férias, e não tínhamos profissionais para substituir. Tínhamos também o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paraopeba, o Cismep, que foi tirado da cidade. Lembrando que era da rede SUS, no 5º andar do Regional. Outro exemplo é a Uai Sete de Setembro. Ela foi fechada, e transferiram tudo para UPA Norte, que nós deixamos pronta.
FVP: Qual o maior problema que você enxerga na cidade? Como pretende trabalhar para resolvê-lo?
Maria do Carmo: O problema é ter a estrutura, a rede física e não ter atendimento adequado. Além do que, nosso gestor atual não mora na cidade e não dialoga com os moradores, e nem com os micros e grandes empresários.
FVP: E qual sua avaliação a respeito da cidade no combate à Covid-19? E sobre a gestão atual?
Maria do Carmo: No primeiro momento, o isolamento foi importante para conter o aumento de casos. Mas, aí começou o abre e fecha. Então, repare, nos cinco primeiros meses, segundo a Secretaria de Saúde do Estado, tivemos 100 mortes, no último mês foram mais de 50. Somado a isso, temos o governo federal e estadual que tratou isso como uma “gripezinha”, o que já influencia no comportamento das pessoas. Porém, se você tem desde o início uma situação firme, consegue travar o aumento de casos, sem provocar lotação dos leitos. Recentemente, no Lar Vicentino perdemos dois idosos. Apesar do local contar com orientação da prefeitura, tiveram que pagar do próprio caixa por um infectologista. Isso é papel da administração municipal. E a atual gestão é um projeto totalmente diferente do que eu acredito para uma cidade. Estão fazendo coisas, não nego. Mas como anda, por exemplo, a relação com o funcionalismo público? Eu vejo pela cidade muitas reclamações por condições melhores de trabalho.
FVP: O que você espera das eleições deste ano? E como está sendo fazer a pré- -campanha eleitoral em um período na pandemia?
Maria do Carmo: Totalmente diferente. O Partido dos Trabalhadores gosta de campanha com abraços, reuniões e apertos de mãos. Quando fui prefeita pela primeira vez, os computadores estavam chegando na gestão pública. Então estou aprendendo. Faço muitas reuniões online e lives. Encontros pessoais são raros. Para se ter uma ideia, nossa convenção no dia 13 será virtual.
FVP: No começo do ano, muitas famílias sofreram com as chuvas fortes. como a senhora pretende lidar com esse problema que pode vir ocorrer logo no começo do mandato?
Maria do Carmo: Todas as vezes que eu fui prefeita recebi várias famílias desabrigadas de chuva. E sempre procuramos reassentar essas famílias em lotes para elas construírem. Investimos também na Defesa Civil, com a prevenção e remoção de pessoas em área de risco. No segundo mandato, nós tivemos alagamento no Icaivera e as pessoas foram para o minha Casa Minha Vida ou receberam indenização. Agora, nesse atual governo, as famílias desabrigadas estão com o aluguel social, acho corretíssimo, contudo, agora estão tirando esse benefício e mandando as pessoas de volta para as casas, que já estão bastante afetadas. Estão lavando as mãos. E nós queremos empregar uma política pública para controlar e reverter essa situação.
FVP: Há algum projeto como proposta para reverter o desemprego na cidade?
Maria do Carmo: A gente tem que investir em parceria com a área industrial, comercial e rural. Criar cooperativas dentro dessas áreas para atender a demanda de empregos. Na minha época, tínhamos à disposição cerca de 300 pessoas trabalhando na manutenção das ruas e avenidas, não era só o Centro que era limpo. E se você amplia o atendimento às unidades de saúde e creches, gera emprego. Se você cria o cartão social para as pessoas em situação de fome, ela irá comprar no comércio local, gerando emprego na região. Então são várias ações.
FVP: Estamos vivendo no Brasil uma polarização entre a direita e esquerda, você acha que isso afeta Betim?
Maria do Carmo: Com certeza essa questão de antipetismo afeta. E aqui, também foi criado o “anti-Maria do Carmo”. O atual gestor vai eliminando as lideranças, o último foi aliado dele, o Carlaile. E o antipetismo a nível nacional fortalece tudo isso. Entretanto, recentemente o Genuíno e o Delúbio, depois de 15 anos que foram condenados e presos, foram inocentados, o próprio impeachment da Dilma foi feito porque ela pedalou para melhorar o Brasil. E agora? Onde nós estamos? Por aqui vejo que é de suma importância manter o diálogo, sobre tudo com os jovens, e com moradores já tradicionais, para que as fake news não confundam a cabeça das pessoas.
FVP: Para concluir, o que você gostaria de acrescentar algo que eu não questionei?
Maria do Carmo: Faço um apelo às pessoas para refletirem sobre o atual momento, e para irem votar. É o voto que determina qual projeto de governo que a gente vai ter para cidade. Procurem conhecer melhor os pré-candidatos, já fui prefeita, então procurem me conhecer. Escolham por uma gestão que atenda de perto a população.