Após um século, Ford se despede do Brasil

Apesar da notícia, os carros da marca norte-americana não serão extintos do Brasil de vez. O mercado nacional será abastecido com veículos produzidos, principalmente, na Argentina e no Uruguai. Foto: Divulgação/ Ford.

Aproximadamente 12 mil contratos de empregos serão impactados com a decisão da montadora

Depois 102 anos em terras brasileiras, a montadora Ford emitiu um comunicado, no dia 11 de janeiro, no qual esclarece que fechará as fábricas que possui no Brasil.

Segundo informações, as unidades de Camaçari (BA) e Taubaté (SP) serão fechadas. Nesses locais será mantida apenas por alguns meses a produção de peças para suprir o estoque de pós-venda. Na cidade de Horizonte (CE), onde fica localizada a fábrica do Troller, todo sistema de montagem do veículo será fechado no último trimestre de 2021.

O Prefeito de Camaçari, Elinaldo Araújo (DEM), em entrevista à BBC News Brasil, destacou que a cidade deve perder aproximadamente 12 mil empregos com a decisão da montadora.

Entrariam na conta os empregos diretos — os funcionários que trabalham para Ford — e vagas em empresas que prestam serviços para a montadora ou fornecem insumos para a produção dos utilitários. “O impacto na receita do município será muito grande. Só de ISS (Imposto sobre Serviços) vamos perder R$ 30 milhões por ano”, enfatizou o prefeito.

Comércio

Apesar da notícia, os carros da marca norte-americana não serão extintos do Brasil de vez. O mercado nacional será abastecido com veículos produzidos, principalmente, na Argentina e no Uruguai. Além disso, em nota, a empresa confirmou que encerrará as vendas dos modelos EcoSport, Ka e T4 assim que terminarem os estoques.

Ainda no Brasil, a Ford apenas continuará com o Centro de Desenvolvimento de Produto na Bahia, o Campo de Provas, em Tatuí (SP), e a sede regional em São Paulo.

O argumento para a retirada das fábricas do país é a crise gerada pela pandemia que atinge o mundo desde o início de 2020. Segundo a Ford, a pandemia do novo coronavírus “amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”.

“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”, disse Jim Farley, presidente e CEO da Ford.

Segundo informações da Agência Brasil, a companhia não divulgou qual será o número de funcionários demitidos, apenas disse que trabalhará “com os sindicatos, nossos funcionários e outros parceiros para desenvolver medidas que ajudem a enfrentar o difícil impacto desse anúncio”.

Impacto da decisão

Para o diretor global de Relações Institucionais e Governamentais, Fabio Fernandes, da entidade de defesa do consumidor Consumer Choice Center, apesar da decisão da Ford, não há razão para desespero.

“O fechamento das fábricas da Ford no Brasil segue uma tendência mundial de queda na venda de veículos que foi drasticamente acentuada em 2020 em decorrência da pandemia do Covid-19, mas também é consequência do alto custo Brasil, da valorização do dólar e queda nas vendas”, pontuou Fábio.

Ele ainda destaca que o setor automotivo vem passando por diversas transformações tecnológicas nos últimos anos, e que os consumidores ficaram mais exigentes. “Os brasileiros veem carros elétricos e autônomos em outros países com preços acessíveis e não conseguem justificar pagar o mesmo preço por um produto que, por conta do custo Brasil, é muito inferior ou inacessível,” explicou.

Aos donos dos modelos Ka, Ka Sedan e EcoSport, Fábio elucida que não há motivos para vender o carro imediatamente ou até mesmo se preocupar com a falta de peças.

“Os proprietários dos modelos que serão descontinuados terão acesso a manutenção, peças e à garantia. O fabricante é obrigado a manter a oferta de peças de reposição mesmo com o fim da produção dos modelos por um prazo razoável”, expõe. E continua. “Além do mais, o anúncio da Ford é para o fechamento das fábricas no Brasil e não para as concessionárias”, finaliza.