Segundo os usuários, a educação é uma das maneiras mais eficazes de se combater o racismo
De acordo com a Agência Senado, “em 1971, um grupo de jovens negros se reuniu no centro de Porto Alegre para pesquisar a luta dos seus antepassados e questionar a legitimidade do 13 de maio, data da assinatura da Lei Áurea, como referência de celebração do povo negro. No lugar, sugeriam o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, para destacar o protagonismo da luta dos ex-escravizados por liberdade e gerar reflexão para as questões raciais. A semente plantada ali é um dos marcos da constituição dos movimentos negros e está na raiz do Dia da Consciência Negra”.
Apesar de tantas conquistas, o negro ainda enfrenta alguns percalços na sociedade, o racismo, por exemplo, é um desafio constante a se combater todos os dias. Uma pesquisa realizada com usuários da 99 e outros transportes por app revelou que o medo de ser vítima de casos de racismo já fez com que 24% dos negros (pessoas que se autodeclaram pretas e pardas) evitassem usar algum tipo de transporte.
Os meios mais evitados são ônibus (40%), vans (13%) e metrô (10%). O levantamento faz parte do Guia da Comunidade 99, um documento que visa promover o respeito entre os usuários da plataforma combater a discriminação, e foi realizado para entender como o preconceito racial impacta a mobilidade urbana.
Quase metade (46%) de todos os respondentes já presenciou um ato de racismo em ônibus, trem, vans e metrô, e 1 em cada 5 negros afirma que já foi vítima de discriminação nesses locais. O levantamento também revelou o preconceito em estabelecimentos comerciais: 49% já presenciou em lojas e shoppings e 48% em mercados.
Para as pessoas negras, esses são os lugares onde mais acontece racismo: 33% e 26% já foi discriminada neles, respectivamente. “Eu (preto) e meu primo (branco) estávamos discutindo no shopping e o segurança abordou ele perguntando se eu estava incomodando”, relata um dos respondentes.Em contrapartida, carro próprio e carros por app foram os meios citados como os mais seguros em relação ao racismo, com 72% e 32% das respostas.
Maioria acredita que educação é melhor forma de combater racismo
Acerca da melhor maneira de combater o racismo, 66% dos passageiros e 56% dos motoristas pretos e pardos responderam que o caminho é a educação sobre diversidade nas escolas
Na sequência, 52% dos passageiros e
45% dos motoristas acreditam que investir em campanhas de conscientização é a melhor saída.Para incentivar a diversidade e combater o preconceito, a 99 diz investir continuamente na promoção de respeito, gentileza e empatia nas corridas. Em parceria com o Instituto Ethos, a companhia criou o Guia da Comunidade 99 , que tem como objetivo conscientizar mais de 20 milhões de passageiras, passageiros e motoristas.
O documento, promovido através de campanhas no app e outras mídias, fomenta os comportamentos esperados na plataforma e dá dicas práticas de combate ao racismo e outras formas de discriminação.
Racismo na infância prejudica o desenvolvimento de crianças negras
Vivenciar o racismo na infância pode levar a criança negra a problemas como rejeição da própria imagem e baixa autoestima, além de outros impactos diretos no desenvolvimento infantil. Os dados são da publicação ” Racismo, Educação Infantil e Desenvolvimento na Primeira Infância “, lançada recentemente pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI) .
No mês da Consciência Negra, o debate sobre políticas públicas que possam combater essa prática é ainda mais pungente. Essa discussão envolve a universalização dos direitos humanos, a redução das desigualdades socioeconômicas e a qualidade da educação infantil, que agem como fatores de inibição e erradicação desse problema.
O estudo, coordenado por Lucimar Dias, pedagoga e Professora Associada da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mostra que a educação infantil é um dos primeiros e mais importantes ambientes de socialização da criança e é nesse espaço que ocorrem as interações sociais que impactam diretamente o desenvolvimento dos pequenos.
Nesse contexto, relações saudáveis podem contribuir positivamente para a aprendizagem, enquanto experiências negativas são prejudiciais. Um dos principais impactos dizem respeito à aceitação da imagem da criança nessa fase da vida. É na primeira infância que o ser humano começa a notar as diferenças físicas. Sendo assim, é fundamental que a criança se sinta aceita, acolhida e valorizada.
“Quando a criança passa por uma situação de racismo ela pode construir um sentimento de desvalorização, rejeição da própria imagem, inibição e dificuldade de confiar em si mesma. Isso afeta o seu processo de socialização”, explica Lucimar.
Além disso, o racismo traz implicações negativas para a saúde mental de crianças e adolescentes, como maior incidência de sintomas de ansiedade e depressão. “Também não podemos deixar de elencar outra consequência dessa discriminação: o estresse tóxico. Essa situação pode interromper o desenvolvimento saudável do cérebro e de outros sistemas do corpo, aumentando o risco de uma série de doenças”, comenta a pesquisadora.
Estudos sugerem que doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes tipo 2, distúrbios respiratórios e imunológicos podem ter raízes em adversidades vividas na primeira infância, como o racismo.
O papel da educação infantil
A educação é um importante espaço na luta contra o racismo. Nesse ambiente, diferenças como cor da pele, tipo de cabelo e gênero afetam a socialização, contribuindo para a aproximação, aceitação ou proibição em um grupo social. Nesse sentido, é importante que os educadores estejam preparados para identificar situações de risco.
“Estudos têm demonstrado que formações de professores voltadas à educação das relações étnico-raciais e com valorização da cultura afro-brasileira leva os profissionais a mudarem e estarem mais atentos a necessidades pedagógicas que respeitem a identidade racial negra”, diz a pesquisadora.
Por outro lado, a não inclusão de questões de raça como uma variável fundamental na formação dos profissionais da educação infantil permite que crianças negras deixem de ser protegidas neste ambiente, o que prejudica a construção da identidade positiva delas.
Vale ressaltar que, no Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNE) instituem a obrigatoriedade da inserção da cultura afro-brasileira e africana nos currículos e incluem a educação das relações étnico-raciais. Essas normativas, se bem incorporadas, ajudam a combater o racismo nas interações sociais das crianças e ajudam na construção de identidade negra.