A Folha Vale do Paraopeba inicia nesta edição uma série de entrevistas com os prefeitos das cidades onde circulamos: Betim, Brumadinho, Igarapé, Juatuba, Mário Campos, Sarzedo e São Joaquim de Bicas. A proposta é ouvir desses gestores como tem sido a administração até agora e quais os planos para o futuro.
Quem abre a série é Carlos Alberto da Silva, o Nem, prefeito de Igarapé. Ele comenta sobre os desafios de administrar as contas do município em um período de crise, agravado pelo atraso dos repasses do governo de Minas, e destaca obras de saneamento feitas pela cidade, além dos planos para as eleições de 2020.
FVP: Qual o balanço a sua gestão até agora?
Nem: Com toda dificuldade que viemos atravessando, podemos considerar como uma boa administração. Vivemos um momento de dificuldade, de atraso nos repasses do governo estadual. Isso já vem há mais de um ano e estamos tentando “medir a água com o fubá”, porque atualmente são R$ 14 milhões em atraso, que fazem uma diferença muito grande para uma cidade que tem um orçamento de R$ 80 milhões. Representa praticamente 20% da nossa arrecadação. Mas mesmo com tantas dificuldades temos feito algumas ações. Na minha gestão finalizamos duas escolas, ampliando as vagas para a educação infantil, abrimos um posto de saúde no bairro Fernão Dias, conseguimos levar água para os bairros Jequitibá, Santa Ana e São Mateus; e estamos fazendo rede de esgoto no Ouro Velho.
FVP: De que forma o atraso nos repasses por parte do governo estadual comprometeu o caixa do município?
Nem: Praticamente em todos os setores pois desses recursos em atraso, parte é direcionada para a educação, para a saúde e isso acabou impactando em todas as áreas. Tivemos que estudar o nosso orçamento, fazer muitos cortes e mesmo assim conseguimos caminhar. Claro que se esse recurso estivesse em caixa estaríamos fazendo mais algumas obras de interesse da população. Mas quando chega nessa situação, temos que priorizar. Temos dado prioridade para saúde e educação. Também conseguimos pagar os salários rigorosamente em dia. Ainda sobre o atraso, acredito que essa epidemia de dengue em Minas Gerais tem tudo a ver com o atraso dos repasses, pois parte desses valores são direcionados para combate e prevenção. Muitas vezes isso não foi feito por falta de recursos. Temos investido em limpeza, saúde pública, mas sem dinheiro é muito difícil.
FVP: O que tem feito para contornar essa situação?
Nem: Como disse, tivemos que escolher prioridades. Saúde e educação tivemos que manter (os investimentos). Cortamos mais em áreas como esporte e cultura, de menor impacto. Tivemos que fazer redução no quadro funcional dessas secretarias e diminuir as atividades desenvolvidas por essas pastas.
FVP: Quais foram os principais avanços da sua gestão até o momento?
Nem: Com toda dificuldade que viemos passando ao longo desses dois anos da gestão, temos visto melhora na limpeza pública, procurado melhorar a educação, mantido os salários em dia e priorizado a manutenção nas estradas vicinais. Esta última parece que é de baixo impacto, mas tem uma repercussão muito grande nas populações próximas. Como não conseguimos fazer grandes obras, priorizamos as pequenas, mas que acabam trazendo avanço e comodidade para a população. Quando eu assumi finalizamos as escolas infantis dos bairros Vale do Amanhecer e Resplendor. Com isso colocamos cerca de 500 alunos na rede, diminuindo a fila de espera. Isso tudo tem um custo porque são necessários mais funcionários, merenda e transporte escolar. Temos mantido com recursos da prefeitura. Também fizemos obras de saneamento, atendendo a um clamor antigo dos moradores do Jequitibá, São Mateus e Santa Ana, que recebiam abastecimento com caminhões-pipa. Fizemos parceria com a Copasa e conseguimos viabilizar água encanada. Agora começamos a fazer rede de esgoto no Ouro Velho e, quando terminarmos, vamos para o Fernão Dias e dar sequência em outros locais.
FVP: Quais obras ou projetos estão previstos para serem executados ainda neste mandato?
Nem: Estamos com alguns convênios assinados com a Caixa para obras de campo society no bairro Cidade Nova, além de recursos para: asfaltamento na estrada para o distrito de Batatal; construção de quadra para o bairro Pousada Del Rey; e recapeamento asfáltico no bairro Novo Igarapé. Também conseguimos fazer algumas captações de recursos. Tudo está em processo de envio de documento para a Caixa, para que possamos licitar e dar início a essas obras. Vamos dar continuidade a uma obra paralisada, do Córrego Fundo, que liga as avenidas Clóvis Salgado e Getúlio Vargas.
FVP: Quais são seus projetos políticos futuros?
Nem: Acredito que há um momento certo de entrar e sair da política. Está chegando o meu de descansar e dar espaço para outros. Acredito que já estou dando minha contribuição, por isso, minha intenção é não participar mais do processo.
FVP: Desde janeiro, a questão de barragens ficou muito em evidência após o rompimento em Brumadinho. Muito se falou em redes sociais sobre a situação da barragem da mineradora Morro do Ipê, próximo ao bairro Candelária, em Igarapé. Essa estrutura corre algum risco?
Nem: Estivemos em visita juntamente com o promotor Mauro Ellovitch e vereadores, para nos certificarmos da situação dessa barragem. Foram feitos alguns estudos que mostraram que não há riscos de rompimento. Mas foram tomadas algumas atitudes quanto a plano de mobilização, de evacuação e instalação de sirenes, para caso venha a acontecer algo. Atualmente a barragem praticamente não é usada porque a empresa está instalando um processo de sistema de filtragem. A obra já está quase finalizada.